MACHADO, Renato Bandeira Gouvêa. A luz da montagem. Dissertação (Mestrado em Artes Cênicas) – UNIRIO, 2011.
Palavras-chave: Analogia; Iluminação Cênica; Montagem.
Resumo: Esta dissertação propõe uma aproximação entre o cinema e o teatro. O eixo principal deste movimento são os mecanismos de iluminação cênica, no teatro, e de montagem, no cinema. O movimento busca uma analogia entre estas duas ferramentas, analisando formas como são utilizadas em seus específicos veículos. O ponto de partida são observações realizadas quando da encenação da peça Sangue bom, da Cia. PeQuod de Teatro. Fui o criador do desenho de luz da peça em questão e, junto aos demais participantes da montagem, tive a nítida percepção que o resultado final da cena trazia consigo um componente cinemático que fazia com que o espectador, sentado em sua poltrona teatral, tivesse por vezes a sensação de estar diante de um filme. O fato de ter me graduado em cinema pela Universidade Estácio de Sá e possuir algum conhecimento adquirido sobre a sétima arte me levou a propor esta dissertação onde averiguo um possível ponto de contato entre peça e filme. Começo por levar ao leitor um breve histórico da Cia. PeQuod e sua relação com o cinema, bem como a forma com que se estabeleceu meu contato com o diretor da mesma Miguel Vellinho. Enquadrar a peça como um tipo específico de teatro, no caso o drama, é o passo seguinte, já que se fazia necessário criar um recorte mais preciso para dar suporte ao estudo. Sigo por analisar mais especificamente a maneira como a iluminação foi utilizada na peça. Para colocar o cinema na discussão, primeiramente já proponho o recorte desejado dentro do vasto universo cinematográfico. Devido à sua semelhança com as estruturas do drama teatral, que foram base para um dos pensamentos que o fundamentou, o cinema clássico narrativo, forma predominante até os nossos dias, foi o escolhido. Estudar a questão do fragmento como unidade da construção cinematográfica, no caso o plano, que traz atrelado a si uma configuração espacial e uma duração, e, portanto, sua justaposição acarretando forçosamente descontinuidades de espaço e tempo levou-me a pesquisar como se constitui o espaço cinematográfico (especialmente na narrativa clássica) e como o tempo interfere na narrativa. Tal estudo se estendeu também para o drama teatral, numa tentativa de compreender suas relações de espaço e tempo. A junção de fragmentos, no cinema, se dá através da montagem. No drama, o estudo traz a ideia que a iluminação é responsável por fragmentar o espaço continuo dentro de uma mesma cena e também tem interferências no ritmo e no tempo diegético da peça. Restava escolher um filme para poder mergulhar num estudo de caso que detalhasse a analogia proposta. Drácula de Bram Stoker do norte americano Francis Ford Coppola é o escolhido. Segue-se o estudo de caso que procura fundamentar a analogia entre iluminação e montagem com o foco voltado para uma peça e um filme que tratam de uma história de vampiro. Era ainda necessário colocar o fato de iluminação e montagem poderem aparecer de diversas outras formas, por vezes muito distantes, daquelas cristalizadas por drama teatral e cinema clássico narrativo. Um pequeno mergulho na obra do cineasta soviético Sergei Eisenstein e em algumas peças contemporâneas cujos processos vivenciei nos trazem tal distanciamento. Finalizando, procuro pensar sobre como a ideia de fragmentação percorreu fortemente todo o século XX fazendo com que montagem e iluminação, cada uma à sua maneira, dentro de seu veículo, tenham se apoiado nela consideravelmente para se constituir como ferramentas da narrativa.