FEITOSA, Antonio Lucas Cordeiro. Bairro Brincante: sociedades constitutivas de um bairro de Juazeiro do Norte – CE. Tese (Doutorado em Sociologia) – UFCE, 2020.
Palavras-chave: Bairro, Periferia, Cultura Popular.
Resumo: Esta tese é um estudo sociocultural sobre modos de entrecruzamento de algumas das socialidades que constituem o bairro João Cabral, na cidade de Juazeiro do Norte-CE. A partir da pesquisa de campo, realizada entre os anos de 2017 e 2020, observou-se a recorrência do uso das categorias “periferia”, “cultura popular” e “violência” nas narrativas sobre o bairro, sendo comum, na cidade e região, sua classificação como “o mais, ou um dos mais, violentos”, “periférico”, “celeiro/berço da cultura popular”. Ao mesmo tempo, práticas culturais identificadas como “cultura popular” (reisado, guerreiro, banda cabaçal, maneiro-pau, bacamarte, lapinha) têm sido significadas como modos de “tirar crianças e jovens da rua, do mundo do crime”, “trabalho social e com jovens” e “valorização do bairro”. Por outro lado, dinâmicas dos conflitos sociais urbanos contemporâneas a muitas cidades brasileiras têm permeado o universo da “cultura popular”, mais precisamente a “brincadeira” do reisado. Em alguns dias da “brincadeira”, muitos jovens homens têm se fantasiado do personagem “cão”, usando uma longa bata, chicote e máscara. “Os cão”, como são denominados, despertam admiração e medo. No campo da “cultura popular” local e na cidade, eles têm sido acusados de pertencimento a facções criminosas, de cometerem crimes, de procurarem confusão com outros grupos de reisado pertencentes a outros bairros. Em vista desses componentes empíricos, o objetivo desta tese consiste em descrever e analisar as diferentes conexões e entrelaçamentos da tríade bairro (“periferia”) – “cultura popular” – “violência”, problematizando como, nessas conexões e a partir delas, o bairro João Cabral é acionado e produzido por múltiplos fluxos. O trabalho de campo foi desenvolvido a partir de uma orientação etnográfica, acompanhando os “brincantes” dos “grupos de cultura popular” em suas apresentações no bairro João Cabral e em outros espaços da cidade, promovidas por instituições ou por eles próprios. Somado a isso e a outros eventos que acompanhei no bairro, também utilizei relatos e entrevistas que fiz com moradores do bairro João Cabral e pessoas vinculadas com os “brincantes”, e material documental (revistas, monografias, dissertações) sobre o bairro e a “cultura popular”. A pesquisa, assim, permite pensar o bairro por meio do entrecruzamento de socialidades, entendendo-o como multiplicidade.
Link: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/51567